HISTÓRIA

Igreja de Santa Maria de Meinedo

A Igreja na Época Medieval

A Igreja de Santa Maria de Meinedo, situada no concelho de Lousada, constitui um exemplar de referência no contexto da arquitectura românica do Vale do Sousa porque apresenta um programa arquitectónico muito ligado ao românico rural, perpetuando esquemas decorativos, alçados e muros que seguem modelos românicos, embora a sua datação deva ser situada entre os finais do século XIII e os inícios do século XIV. Apesar desta datação tardia, o prestígio da Igreja é muito grande, uma vez que Meinedo foi sede de um bispado no século VI.

Um pouco a Norte da Igreja e, possivelmente, no local de uma villa romana, há vestígios de muros e alguns capitéis pertencentes, ao que parece, a uma basílica relacionada com a sede do Bispado de Magnetum1. A campanha de escavações arqueológicas, realizadas entre 1991 e 1993, permitiu identificar a abside de um edifício de planta cruciforme que poderá datar do período suevo2. O Bispo de Meinedo, Viator, esteve presente no II Concílio de Braga, realizado em 572 e presidido por São Martinho de Dume. A basílica terá passado, pouco depois, a igreja paroquial como indica a sua referência no Parochiale suevicum, documento que regista o número de paróquias pertencentes a cada diocese, e cuja elaboração decorreu da organização paroquial, impulsionada por São Martinho3.

Meinedo era então um vicus, o que significava a existência de uma povoação com parte do seu habitat organizado em ruas. Os elementos remanescentes da basílica, como capitéis e impostas, revelam uma construção de relativa grandeza e aparato, datável de meados do século VI4.

Em 1113 o Bispo do Porto, D. Hugo, recebe de D. Afonso Henriques o Couto do Mosteiro de Santo Tirso de Meinedo5. Desconhece-se a data de fundação deste mosteiro embora a lenda, consagrada no Agiológio Lusitano (1652)6, afirme que foi o sogro do rei visigótico Recaredo que, da cidade de Constantinopla, trouxe o corpo de Santo Tirso, tendo fundado o mosteiro sob a sua evocação7.


1 ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de – História da Arte em Portugal. Arte da Alta Idade Média. Lisboa: Publicações Alfa, 1986, p. 30

2 Igreja Matriz de Meinedo/Igreja de Santa Maria. http://www.monumentos.pt (consulta efectuada em 27 de Dezembro de 2006).

3 ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de – História da Arte em Portugal. Arte da Alta Idade Média. Lisboa: Publicações Alfa, 1986, p. 30.

4 IDEM, ibidem, p. 30.

5 Sobre a documentação relativa à freguesia de Meinedo veja-se: LOPES, Eduardo Teixeira – Meinedo. Subsídios para uma possível história desta freguesia. Lousada: Câmara Municipal de Lousada, 2001.

6 CARDOSO, Jorge – Agiológio Lusitano. (Organização, estudo e índices de Maria de Lurdes Correia Fernandes). Tomo I. Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto, pp. 278-280 (ed. original de 1652).

7 LOPES, Eduardo Teixeira – Meinedo. Subsídios para uma possível história desta freguesia. Lousada: Câmara Municipal de Lousada, 2001, pp. 28-31.

A Igreja na Época Moderna

Relativamente a dados precisos sobre este templo para a Época Moderna, também eles são escassos, desconhecendo-se informações acerca do domínio que esta igreja assumia sobre o território paroquial, não sendo exequível identificar as capelas e ermidas que lhes estavam afectas e, de igual modo, não sendo ainda possível descortinar notícias relativas ao estado em que se encontrava este edifício durante aquele período.

Observando o conjunto que compõe a Igreja de Santa Maria de Meinedo, tanto exterior como interiormente, o edifício expõe inúmeros elementos datados dos séculos XVII e XVIII, os quais foram aplicados sobre uma estrutura originária da Idade Média.

Arquitectonicamente, ao nível da fachada principal, singela no seu aspecto geral, destacamos, como elemento flagrante do acrescentamento ocorrido em tempos pós-medievais, a inclusão da torre sineira a sul da fachada medieval. De secção quadrangular, a torre organiza-se em dois registos principais, correspondendo o primeiro à base propriamente dita e o segundo à zona de vazamento das quatro ventanas que recebem os sinos. A cobertura apresenta-se de forma piramidal, tendo sido colocadas quatro pequenas pirâmides nos vértices da sua base.

Do lado norte da igreja são reconhecíveis os volumes da capela lateral e da sacristia: o primeiro apresenta uma orientação perpendicular à da nave e o segundo está colocado paralelo à capela-mor, encontrando-se adossado a esta última. A capela lateral tem cobertura em telhado de duas águas, observando-se nos vértices da empena triangular a colocação de pirâmides bolbosas lateralmente, e de uma cruz no vértice central. Salienta-se uma organização volumétrica escalonada.

A imagem de Santa Maria

Nesta igreja merece especial atenção a imagem de Nossa Senhora de Meinedo, em calcário e apresentando vestígios de policromia, o que está de acordo com a descrição que dela faz o autor do Santuário Mariano quando refere que era pintada de cores e ouro.

É uma escultura de vulto cuja grande devoção está bem documentada na Época Moderna e que corresponde à Época Gótica, embora o gosto pela antiguidade deste tipo de imagens conduza a que sejam assiduamente classificadas como românicas. A escultura foi cavada na parte posterior, circunstância bastante frequente, que se destinava a tornar as imagens mais leves para poderem ser levadas nas procissões.

Da escultura românica de vulto pouco chegou até nós. A sua produção terá sido muito menor do que na Época Gótica, já que as relíquias satisfaziam as necessidades devocionais. No entanto, há referências documentais da Época Românica que dão conta da existência de majestades, certamente imagens da Virgem entronizada como Sedes Sapientiae, muitas vezes realizadas em madeira e que desapareceram por mudanças de gosto e de devoção. As determinações Sinodais ordenavam que as esculturas velhas e em mau estado fossem quebradas e enterradas em chão sagrado, nas cabeceiras ou nos adros das igrejas.

Talha, pintura e azulejaria

No espaço da Igreja, recentemente intervencionado por obras que lhe conferiram um aspecto depurado, sobressai de imediato o revestimento em talha dourada que ocupa toda a superfície da parede contígua ao arco triunfal, fazendo parte dessa estrutura os altares colaterais, que enquadram a capela-mor. Assim, a capela-mor de Santa Maria de Meinedo, pela articulação que testemunha entre arquitectura, revestimentos parietais em talha, azulejo e pintura, bem como pela estrutura dos três retábulos que compõem o conjunto, afirma-se como um exemplo subido da unidade estética do espaço sacro em finais do século XVII.

Cenografia, sumptuosidade, função pedagógica das artes, são valores que definem o espaço sacro português da época barroca, e que colhem nesta capela-mor uma interpretação feliz, que ainda se mantém. O uso de variadas técnicas artísticas para embelezamento do mesmo espaço, como a talha dourada com pintura hagiográfica sobre madeira, azulejaria de padronagem nos alçados laterais e tecto em caixotões de madeira para enquadramento de pinturas figurativas, transmite ao local uma profusão cromática, rica e diversificada, que era apanágio do espaço sacro barroco português.

Restauro e conservação

As obras de restauro da Igreja de Santa Maria de Meinedo foram iniciadas em 1991, com a execução do projecto de recuperação e restauro da igreja da autoria do arquitecto Francisco Cunha, sob a orientação do IPPAR. Também os equipamentos de apoio à paróquia e arranjos exteriores são da responsabilidade de Francisco Cunha.

Para além dos trabalhos de conservação e restauro do templo, a execução deste projecto visou também a realização de escavações arqueológicas no interior da Capela de Santo Tirso, nave da igreja e sacristia; no exterior foram abertas sondagens junto à fachada sul do edifício. Os achados arqueológicos encontrados, vieram comprovar a antiguidade de Meinedo. [MB]

A Ponte de Espindo

A Ponte de Espindo, na freguesia de Meinedo, concelho de Lousada, assegura a passagem sobre o rio Sousa, estabelecendo a ligação viária entre os lugares de Bustelo e de Boim. Segundo um estudo da responsabilidade da DGEMN, esta Ponte, de pequenas dimensões, é constituída por um só arco de volta perfeita apoiado em sólidos pilares que arrancam directamente das margens, apresentando-se o da margem esquerda, no lado montante, protegido por um muro ou mouchão.

A largura do vão obrigou à elevação do arco e à colocação do tabuleiro em cavalete, ou seja, de dupla rampa, revestido a madeira. É uma construção em cantaria granítica, com paramentos de aparelho irregular, o que contrasta com o aparelho regular do arco, de aduelas [pedras que formam o arco] bem esquadriadas.

  • SABER MAIS
    • Séc. VI (meados) – Construção da basílica, sede do Bispado de Meinedo;
    • 1113 – Referência à existência do Mosteiro de Santo Tirso de Meinedo;
    • Sécs. XIII - XIV – Construção da igreja;
    • Séc. XVII e XVIII – Revestimento a azulejos, azuis e brancos da capela-mor e construção da torre sineira moderna. Colocação dos retábulos e retábulo-mor em talha dourada;
    • 1991 – Arranjo da Capela do Santo Tirso pela Comissão da Fábrica da Igreja;
    • Década de 90 do século XX – Início das obras de recuperação e restauro da Igreja de Meinedo pelo IPPAR, com projecto da autoria do arquitecto Francisco Cunha.
    • Angelo Frosi, S.X. (2 de Fevereiro de 1970 - 26 de Maio de 1978, depois bispo de Abaetetuba)
    • Armido Gasparini, M.C.C.I. (15 de Março de 1979 - 21 de Outubro de 2004)
    • António Francisco dos Santos (21 de Dezembro de 2004 - 21 de Setembro de 2006, nomeado bispo de Aveiro)
    • Léon Kalenga Badikebele (desde 1 de Março de 2008)

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