PARÓQUIA DE MEINEDO

E porque somos de Meinedo…

Santa Maria Maior de Meinedo, rogai por nós!

Quando, naquela manhã bendita, o bendito arcanjo São Gabriel se retirou depois de transmitir a sua espantosa mensagem, a Senhora bendita ficou a pensar na missão que lhe fora entregue. E que missão era essa? Fora-lhe pedido que fizesse uma das coisas mais difíceis do mundo: esperar. Ela tinha de ficar à espera. Era só isso. Era isso tudo. Ficar nove meses à espera. Era isso que se pedia à Mãe castíssima, à Mãe imaculada, à Mãe intemerata. Foi essa a missão que o Céu lhe entregou.

Não se tratava de uma espera passiva. Todas as mães sabem como esses meses de espera são cheios de actividade. Actividade externas mas, mais importante do que tudo, actividade interna. Os primeiros nove meses de vida de um ser humano são os mais dramáticos, os mais intensos, os mais activos. Para si e para a sua mãe. Não se tratou, pois, de uma espera inútil para Ela, a Mãe amável, a Mãe admirável. Mas era uma espera, apesar de tudo. A Senhora era, desde o princípio da sua missão, a Senhora da Esperança.

A espera foi activa também porque «naqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se apressadamente para a montanha, para uma cidade de Judá. Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel» (Lc 1, 39-40). A maioria das meditações desta passagem sublinha, justamente, a Caridade e o serviço da Senhora no apoio a sua prima idosa e grávida. Ela, que era a Virgem poderosa, a Virgem clemente, tinha essa razão para ir. Mas esquece outros elementos centrais dessa sua acção. Esquece a seriedade e o rigor de Maria. Lembra a compaixão e a benemerência, mas descura a sua inteligência e perspicácia. Ela, que era a Virgem louvável, a Virgem fiel, tinha outras razões para ir.

A visita a sua parente não foi apenas um acto de solidariedade. Foi também um acto de racionalidade. O arcanjo tinha feito uma previsão absolutamente incrível. A senhora acreditou, mas não cegamente. A senhora, que era o Vaso espiritual, ponderou bem as razões que lhe foram dadas para acreditar. Usou a sua razão até onde pôde, e a sua Fé a partir daí.

A prova principal que o arcanjo invocou para a sua mensagem incrível foi que «a tua parente Isabel concebeu um filho na sua velhice, e este é o sexto mês daquela a quem consideram estéril, porque a Deus nada é impossível» (Lc 1, 36-37). A Senhora, que o vaso honorífico, tinha o dever de examinar essa evidência que o Céu lhe entregara. A gravidez da estéril Isabel era a prova de Deus para a gravidez da Virgem Maria.

Confirmar a maravilha no seio da sua prima não garantia a maravilha muito maior do seu seio. Nada substitui a fé, a confiança, a entrega completa da «serva do Senhor» (Lc 1, 38), da «cheia de graça» (Lc 1, 28). Mas a Fé baseia-se em razões, em provas. Não se acredita em qualquer coisa. Ela, que era a Rainha dos Anjos, não acreditou em qualquer coisa. Acredita-se no que é razoável, mesmo que seja incrível. Deus nunca pede uma adesão cega e acéfala, quer uma confiança sensata e sólida.

O nascimento de um filho de uma mãe estéril por um dom maravilhoso de Deus repete-se várias vezes na Escritura. Sara, mãe de Isaac (Gn 18 e 21), a mulher de Manué, mãe de Sansão (Jz 13), Ana, mãe de Samuel (1Sm 1) e agora Isabel, mãe de João (Lc 1). Várias vezes o Senhor repetiu essa maravilha. Ela, a Mãe do Criador, sabia-o bem. Em todos estes casos, esse mesmo acontecimento foi um milagre espantoso. Mas, desta ultima vez, a gravidez da estéril é apenas o sinal para provar o milagre ainda mais maravilhoso. O milagre da gravidez da estéril empalidece perante o espantoso da gravidez da virgem. A mensagem do Arcanjo era tão sublime que justificava a necessidade dessa justificação. Não era a gravidez miraculosa, porém, o milagre mais espantoso. A Senhora ficou justamente estupefacta com a notícia: «Eis que conceberás e darás à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus» (Lc 1, 31). Mas ficou ainda mais estupefacta com a continuação: «Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo. O Senhor Deus lhe dará o trono do seu pai David, Ele reinará na casa de Jacob pelos séculos e o seu reinado não terá fim» (Lc 1, 32-33). Ela, que era a Torre de David, ficou espantada com a explicação da surpresa: «O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; é por isso que o menino que vai nascer será chamado Filho de Deus» (Lc 1, 35).

Para confirmar a primeira parte da notícia, bastava esperar algumas semanas e começaria a sentir os movimentos do filho nascido sem «conhecer homem» (Lc 1, 34). Mas esperar o trono de David, o reino de Jacob era algo que tinha de ser compreendido na Esperança. No decurso dos longos anos de Nazaré, dos longos meses de pregação, das longas horas de tortura, de suplício na cruz, era preciso esperar. Ela, que era a Rainha dos Patriarcas, precisava de esperar com muita Esperança para ver o trono de David e o reino de Jacob. Por isso a Senhora das Senhoras da Esperança.

Mas o mais importante de tudo, a parte mais vital, mais incrível, mais central da mensagem não era ainda o trono de David e o reino de Jacob. Mais sublime que a conceição virginal, mais determinante que a sucessão real é a filiação divina. Ela, que era o Vaso insigne de devoção, sabia-o bem. Disseram-lhe que o bebé seria «chamado Filho do Altíssimo […] será chamado filho de Deus». Aquele bebé seria o filho do Altíssimo, o filho de Deus. A parte verdadeiramente maravilhosa da mensagem era que aquele bebé seria o filho da Esperança.

Essa fora a Esperança de Israel. Ao longo de gerações, todo o povo esperara o Messias, o rei que havia de vir (Sl 2; Jer 30-33, Dn 9,25), o servo do Senhor (Is 42 e 49). Ao longo do deserto das perseguições, do exílio, da opressão, da espera, essa tinha sido a Esperança que levantara o povo, que fortalecera o povo, que libertara o povo. A Rosa Mística era agora a mãe do Messias, a mãe da Esperança de Israel.

Essa Esperança realizou-se naquela outra manha bendita, em que outro Anjo anunciou a outras mulheres, junto a um túmulo, também o aparecimento de uma vida. Era a mesma vida que o Arcanjo lhe tinha anunciado a ela naquela manhã já longínqua. A Senhora tinha esperado durante anos por aquela manhã. Desde aquela longínqua manhã que a Senhora, a Torre de Marfim, esperava essa manhã em que o Filho do Altíssimo receberia o trono de seu pai David e reinaria na casa de Jacob pelos séculos, num reinado que não teria fim. Nessa manhã realizou-se aquilo por que a Rainha da Esperança esperava. Não era preciso mais Esperança. A partir do momento em que tudo ficou consumado, a Senhora da Esperança, a Casa de Ouro, deixou de ser a Rainha da Esperança. Passou a ser a Rainha da Compreensão, a Rainha dos Apóstolos, a Rainha dos Mártires, a Rainha dos Confessores, a Rainha das Virgens, a Rainha de Todos-os-Santos. Com a Ressurreição do seu Filho, a sua mãe tornou-se caminho para o seu Filho, caminho de salvação. Com a ressurreição, a Senhora deixou de ser Rainha da Esperança da Redenção, para ser Rainha dos Redimidos. Quando a Esperança se tornou realidade, a Senhora da Esperança passou a ser Rainha da Realidade.

Mas, para nós, essa realidade ainda é Esperança. Para os que vivem no tempo, a Ressurreição que se deu no passado é já certeza presente de eternidade, mas é também ainda e só promessa da salvação futura. Para nós, que vivemos no pecado, a garantia da libertação é ainda penhor da fidelidade. Ela, que é a Rainha da Família, a Rainha da Igreja, a Rainha da Paz, sabe isso muito bem. O Filho da Senhora está glorioso, mas nós, Filhos da Senhora, ainda penamos na dúvida.

Ela sabe isso muito bem. Por isso ela é a Saúde dos Enfermos, o Refúgio dos Pecadores, a Consoladora dos Aflitos, o Auxílio dos Cristãos, a Advogada dos Navegantes. E por isso continua a ser Rainha da Esperança. Não já da Esperança da humanidade, que está realizada, mas da Esperança desta humanidade, que ainda busca a salvação.

Enquanto houver esperança no mundo, ela será Rainha da Esperança. Ela já vive e há muitos na certeza da Glória, na compreensão da Bem-Aventurança. Mas, apesar disso, ainda tem Esperança. Não já Esperança em Cristo, porque aí só vê certezas, mas agora Esperança em nós. Ela, que é a Porta do Céu, a Estrela da Manhã, ainda é a Rainha da nossa Esperança de Salvação.

Rainha do Santíssimo Rosário, Nossa Senhora das Neves, rogai por nós!